Vejam bem o que estão dizendo de nossa última vitória...frisam os erros de arbitragem... curioso que não vemos tanta empolgação quando o prejudicado somos nós. Outras tantas vezes tb dizem que o adversário pressionou o tempo todo e que nas raras oportunidades que tivemos, marcamos. Um time "aplicado", cirúrgico", que joga "com o resultado"...pois bem, contra a Ponte, em São Januário, o jogo foi um tanto diferente. Sofremos um revés inacreditável logo no primeiro minuto de partida. Um daqueles chutes no ângulo que nem nosso grande Cavalieri conseguiu defender, apesar do esforço, e de ter chegado bem perto disso. Um milímetro acima, e o travessão talvez salvasse aquele gol. Mas o gol sofrido empurrou o time pra frente. E, como a bola passava riscando, mas insistia em não entrar, o que se viu foi um massacre... enquanto a Ponte só se preocupava em se defender e em fazer cêra... num interminável festival de cai-cai, sob as barbas do mesmo fraco juiz que acusam de nos ter ajudado. Domingo foi a vez do goleiro deles fazer milagres... e quando o jogo ia se aproximando do fim, conseguimos os dois gols que garantiam os três pontos. Com erros de arbitragem... pode até ser, embora a falta seja discutível. O pênalti , a meu ver, não foi. Mas se a ideia é contabilizar erros a nosso favor, seria justo que se metesse na contagem, inúmeros erros gritantes que nos prejudicaram, como no gol estranhamento anulado (o bandeira só levantou a bandeira, depois que o Fred já havia passado o goleiro e mandava a bola para o gol vazio). Eu disse que seria justo, sim, mas na verdade, acho melhor que não o façam. Será bom para nós, que desmereçam nossa trajetória, por mais impressionante que seja em números. Disse que será bom e já explico.
"Amigos, cabe agora ao Fluminense fingir-se de morto." afirmou certa vez Nelson Rodrigues em dezembro de 70, dias antes da conquista do primeiro brasileirão. Já falamos em outros momentos da importância da humildade nas nossas grandes conquistas. Boa parte de nossa sala de troféus se deve à força de um conjunto, à união, à determinação, mas sobretudo, à humildade. Creio que o momento atual é mais do que oportuno a resgatar uma crônica do velho dramaturgo tricolor, dada a nossa trajetória. Vejam bem... é bom que minimizem nossa trajetória histórica. Eu, desde já, quero agradecer imensamente à grande imprensa esportiva carioca (sem ironia), do jornal e da TV, bem como nossos adversários por constantemente frisar os erros de arbitragem a nosso favor, ou a pressão sofrida em muitos jogos. Como ensina nosso trovador maior, é preciso sempre vestir as sandálias da humildade e "fingir-se de morto". Deixemos que digam, pois ajuda a afastar o ameaçador "já ganhou". O Fluminense não é o time do "Já ganhou"...é o time do "Eu acredito". O "Já ganhou" é que derrotou nossa seleção em 1950. Naquela mesma copa, a seleção começou sem tanto crédito... com as goleadas sobre a Suécia e a Espanha, na fase final, que passamos a de fato, "antecipar" a comemoração... antecipamos a comemoração para adiar a primeira conquista.
Aquarela inspirada em fotografia de José Medeiros, registrando um flagrante da final da Copa de 50. Brasil perdia para o Uruguai diante de 200 mil pessoas que já se consideravam campeãs mundiais desde a goelada contra a Espanha. O "já ganhou" se transformou no maior trauma futebolístico do país.
O Fluminense tem um histórico um tanto diferente do que vemos no time atual. Hoje em dia todos falam do elenco tricolor, repleto de craques no campo e no banco. Mas temos uma peculiaridade nossa. Somos do time que mais vezes foi campeão com equipes desacreditadas por adversários! Desde o título de 51, quando com um time de desconhecidos o Flu ia batendo os rivais pela contagem mínima... "Líder por uma semana", ironizava Nelson a piada dos rivais pelos botequins da cidade: "daí pra frente o Fluminense foi sempre o líder por uma semana." Aquele time foi campeão carioca e mundial. Alguns dos desconhecidos eram Castilho, Telê e Didi... "Timinho ?" Jamais! Mas foi assim que aquele time entrou pra história.
Muitas outras vezes, a coisa se repetiu... em todas as décadas. Foi assim em 59, em 69, no brasileirão de 70, em 83, no carioca, 84 no segundo Brasileirão, e novamente no carioca de 95. O Vasco era o então Tri-campeão, lutava pelo tetra,o Flamengo havia se reforçado para as comemorações de seu centenário. com contratações de peso, como o campeão do mundo Romário, saldando sua chegada com um desfile pela cidade em corpo de bombeiros, e o nosso velho lateral esquerdo Branco. O Botafogo que viria a ser o campeão brasileiro no mesmo ano, também havia se reforçado, contava com Túlio em sua melhor fase, Donizete (o Pantera), com uma zaga de respeito: Gottardo e Gonçalves. O Fluminense havia feito contratações pontuais de "ilustres desconhecidos". Sua aposta mais famosa era o polêmico Renato Gaúcho, que já vinha se desgastando em passagens mornas por outros clubes brasileiros e muitos davam sua carreira como encerrada. Perguntei a amigos em quem apostavam para conquistar o carioca. Ninguém lembrou do Fluminense. Graças a Deus. Fomos campeões depois de 10 anos, num dos mais emocionantes campeonatos cariocas de todos os tempos.
Voltando à crônica de Nelson, às vésperas da conquista de 1970, o dramaturgo nos conta que numa roda de amigos, fez a pergunta: Quem ganha o Robertão (Taça Roberto Gomes Pedrosa, como era chamada a principal disputa nacional, reconhecida há dois anos como brasileirão)?" No que..."Houve uma unanimidade feroz: _ O Cruzeiro. "
" E todo mundo pôs-se a entoar hinos ao time de Tostão. Era o melhor do Brasil. Houve um momento em que, no fundo de minha timidez, ousei a pergunta: '_ E o Fluminense?' A resposta foi uma gargalhada. (...) E, então, um dos presentes tratou de demonstrar o que lhe parecia ser uma verdade inapelável e eterna: o Tricolor não tem um craque, um único craque." Desmereciam Félix, o lateral Marco Antônio, talvez por ter sido reserva de Everaldo, e desprezaram igualmente o diabo louro Samarone, Lula, Flavio, enfim...
Acontece que na época, todos os grandes tri-campeões de 70 e outros mais que tinham futebol de sobra para estarem entre eles, e que já ganhavam notoriedade. Basta ver Pelé, Carlos Alberto Torres e Edu, no Santos; Tostão, Piazza e Dirceu lopes, no Cruzeiro; Jairzinho no Botafogo, Leão e Ademir da Guia, no Palmeiras; Rivelino, no Corínthians; Gerson no São Paulo, Everaldo no Grêmio, Carpegiani no Inter e Dario no Atlético. Haja fôlego! Em vista do arsenal adversário, quem haveria de acreditar na conquista tricolor...além dos próprios tricolores? Mas em 20 de dezembro daquele ano, o Fluminense antecipava o presente de natal da nossa querida torcida.
Falamos de 1951, de 1995, de 1970, e deixei pro fim o primeiro título do meu Fluminense que testemunhei. Também em 1983 fomos desacreditados. O Flamengo vinha com um time que acabava de se sagrar tri-campeão brasileiro, o Vasco disputava o bi, com o timaço encabeçado pelo atual presidente Roberto Dinamite, no auge de sua carreira. O Botafogo, de Baltazar, o Bangu, bancado pelo bicheiro Castor de Andrade, vinha de Cláudio Adão, Marinho e Arturzinho, que apesar de não ter vencido nem o primeiro, nem o segundo turno, foi o que mais acumulou pontos nos dois. O Fluminense, que não era campeão desde 80, vinha de campanhas mornas, manteve alguns jogadores como o lateral Aldo, o zagueiro Duílio e o meia Delei, promovera jovens valores da base como o goleiro Paulo Victor e o zagueiro Ricardo Gomes, e contratara promessas ainda desconhecidas do Sul como Branco, Jandir, Leomir, Tato e uma dupla que já fazia certo sucesso no Atlético-PR, Washington e Assis. Quase ninguém sabia que esse time formaria uma geração vencedora, que conquistaria o segundo brasileiro, e o tri estadual, todos de maneira emocionante, com direito a grandes decisões contra Flamengo (a primeira delas com um gol ao apagar os refletores), Bangu (de virada, com o segundo gol aos 42 do segundo tempo), e Vasco (na primeira final de um campeonato nacional entre cariocas). E o Fluminense venceu os três primeiros certames que eu comecei a acompanhar, frequentando ao nosso querido Maracanã.
É, portanto, fundamental esse constante desacreditar no nosso tricolor. Não se enganem quanto aos pontuais elogios. Só recebemos elogios e vãs tentativas de nos "secar" com afirmações rubro-negras de que já somos campeões ( lê-se Renato Maurício Prado), como se ele fosse escrever o mesmo, caso o seu time estivesse na mesma situação. Pois lembremos a ele, que quem gosta de antecipar comemorações e ficar com o grito travado na garganta não somos nós. Ao mesmo tempo, RMP adora ressaltar as supostas ajudas de arbitragem, a tal "sorte de campeão", a pressão adversária a cada peleja. Deixemos que falem, que desdenhem... por mais que gozemos agora de uma invejável vantagem de 9 pontos, todos sabemos que nada está ganho, como todos sabemos que as vitórias tem sido suadas. É assim e tem que ser assim! Nossas vitórias são sempre cardíacas.
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