sexta-feira, 6 de julho de 2012

Humildade pra ser campeão. Fla-Flu de 1969.


Ilustração: Flavio Pessoa. Ano: 2009. 
                                                   

"Amigos, a humildade acaba aqui.  Desde ontem o Fluminense é o campeão da cidade. No maior Fla-Flu de todos os tempos, o tricolor conquistou a sua mais bela vitória. e foi também o grande dia do Estádio Mário filho" Nelson Rodrigues assim começou a crônica sobre a grande final de 1969. E ainda eternizou frases fenomenais sobre este clássico dos clássicos. 
"Daqui a duzentos anos a cidade dirá mordida de nostalgia: _ 'Aquele Fla-Flu'. Ah, quem não esteve ontem no Estádio Mário Filho não viveu.(...) Ninguém conquista um título num único dia, numa única tarde. Não. Um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de um campeonato inteiro. Acreditem: O Fluminense começou a ser campeão muito antes. Sim, quando saiu do caos para a liderança. 'Do caos para liderança', repito, foi a nossa viagem maravilhosa.Lembro-me do primeiro domingo em que ficamos sozinhos na ponta. As esquinas e os botecos faziam a piada cruel: 'líder por uma semana'. Daí pra frente o Fluminense era sempre o líder por uma semana.' 



Ilustração: Flavio Pessoa. Ano: 2009. 


E acabou sendo o líder inclusive quando não havia mais semanas pela frente. A crônica de Nelson exprime uma trajetória recorrente entre as campanhas dos títulos do Fluminense. Volta e meia, não nos dão crédito, dão-nos por mortos. E a equipe, então, é tomada de uma sensação de superação, que desafia matemáticos, analistas táticos, ou, como diria Nelson, "idiotas da objetividade". 
Quem conhece a história pode fazer o teste. É só ler a crônica de Nelson do Globo, do dia 16 de junho de 1969, uma de suas mais conhecidas. Tente encaixá-la em outras ocasiões e perceberão que ela cabe como uma luva até começar a entrar em detalhes sobre o jogo do dia anterior. O canal 100 usou parte d crônica na decisão de 95, na final contra nosso velho freguês de decisões.    



                                         
Foto clássica de Nelson, torcendo no maracanã. 


Roberto Assaf e Clóvis Martins trazem mais informações sobre este grande jogo, que atraiu 171.599 pagantes no dia 15 de junho de 1969, provavelmente o segundo maior público entre dois clubes na história (o primeiro foi outro Fla-Flu, em 1963, também decisivo, mas com desfecho favorável aos rivais, quando um empate em 0x0 levou a taça pra Gávea). 
O Fluminense mantinha uma distância de 3 pontos na tabela e uma vitória rubro-negra levaria a decisão para a última rodada. Empate garantia o troféu nas Laranjeiras. Sempre à frente do placar, fizemos 1x0, aos 9.  neste momento, o goleiro rubro-negro foi reclamar de impedimento no gol tricolor. Correu atrás do juiz para reclamar veementemente e levar cartão vermelho. Eles acabaram empatando aos 35 do primeiro tempo. Fizemos 2x1 aos 38, mas eles empataram novamente, aos 16 da segunda etapa. Jogo tenso. O Flamengo, precisando da vitória vinha pra cima, quando nosso goleador, meu xará Flavio, aos 39, marcou aquele que seria o gol da vitória, "da doce e santa vitória. E rubro-negro não empatou mais. Nunca mais". E Nelson, então, finaliza: 


Cláudio Garcia devolve a bola para as redes, comemorando o gol de Flávio, o 3º do Fluminense no jogo. 

"Passamos toda a jornada com um passarinho em cada ombro e as duras e feias sandálias nos pés. Mas o Fluminense é o campeão. Erguendo-me das cinzas da humildade, anuncio: 'Vamos tratar do bi."
Se o bi acabou não vindo, veio o primeiro campeonato brasileiro no ano seguinte. Mas o importante é que soubemos manter a humildade até o fim. Até ser campeão!   

       
Súmula:
Fluminense 3x2 Flamengo, 15 de junho de 1969
Local: Maracanã.  
Juiz: Armando Marques.
Público: 171.599 pagantes
Cartões: Dominguez (vermelho) 
Fluminense: Félix, Oliveira, Galhardo, Assis, Marco Antônio, Lulinha (Samarone), Denílson, Wilton, Flávio, Cláudio, Lula (Gilson Nunes). Técnico: Telê Santana.
Flamengo: Dominguez, Murilo, Onça, Guilherme, Paulo Henrique, Liminha, Rodrigues Neto, Doval, Fio, Dionísioo, Arilson (Sidnei). Técnico: Tim. 
Gols    


CANAL 100, com a crônica de Nelson, na íntegra, narrada por Paulo César Peréio: 
http://www.youtube.com/watch?v=h626KkrSh4Q


Nas fotos, Samarone, Flávio e Telê Santana, jovem técnico estreando com título no tricolor.  

Manchete do Jornal A Última Hora, do dia 16 de junho de 1969. 



Tricolores comemorando o título. Notem torcedores rubro-negros de costas, na parte debaixo da arquibancada,  Eram outros tempos. 

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