Em 1983, eu estava começando a frequentar o Maracanã e começando a me inteirar sobre o mundo do futebol e o campeonato carioca de 83 seria a minha primeira experiência como torcedor. O time da moda era o Flamengo, que acabara de se sagrar tri-brasileiro, tinha um time repleto de estrelas, dentre as quais algumas encantaram o mundo na Copa da Espanha, no ano anterior. Tirando o Zico, que tinha sido transferido para o Undinese, da Itália, estavam todos lá, fazendo deles, o maior candidato ao título carioca, seguidos de perto pelo Vasco, de Dinamite. O Fluminense contava com um time reformulado, muitas contratações pouco ou nada conhecidas como Branco, Tato, Leomir (hj assistente do Abel), Washington e Assis, foram mescladas com jogadores da divisão de base, como Ricardo Gomes, e outros que já estavam no time principal das Laranjeiras, como Delei, Duílio e goleiro Paulo Victor.Esse time se tornaria mais conhecido e respeitado a partir daquele título, que depois seria seguido por mais dois cariocas e um brasileirão, em 84.
Mas o título teve seus percalços. Vencida a primeira etapa, a Taça Guanabara, o técnico Cláudio Garcia assinara com o rival rubro-negro durante as comemorações. Garcia ganharia tb a Taça Rio e por uma dessas ironias dos deuses do futebol, perderia o título principal. O triangular final seria disputado por Fluminense (vencedor do 1º turno, a Taça Guanabara), Flamengo (vencedor da Taça Rio, que valia pelo 2º turno) e Bangu (primeiro colocado no total de pontos ganhos nos dois turnos). Na primeira partida, Fluminense arrancara um empate num jogo que começara perdendo do Bangu. Na segunda partida, o Fla-Flu. Meu primeiro Fla-Flu decisivo. Na chegada do Estádio, minha memória infantil não deixa esquecer a voz de outro garoto que, de passagem, na rua, comentou em alto e bom som: "não precisa nem jogar, o Flamengo já ganhou". Mal sabia eu, que esse "já ganhou" ficaria gravado na minha cabeça pra sempre.Com o 0x0 persistindo até os minutos finais, numa época que não havia os famosos descontos usuais de 2, 3 minutos que os árbitros costumam acrescentar aos 45 regulamentares, o Fluminense ia sepultando qualquer possibilidade de título. A decisão ficaria entre Flamengo e Bangu, jogo final. Pois se houvesse um terceiro empate, o regulamento previa que o título ficaria com o vencedor do total de pontos ganhos: o Bangu.
Aos 44, a massa rubro-negra já cantava a nossa eliminação, e se empolgava com um ataque fulminante de seu time, que seria interceptado por nossa defesa. E, numa ligação rápida, Delei, percebera Assis em posição legal na frente e sem marcação. O futuro "carrasco", de repente se via sozinho, correndo em direção à meta de Raul. Chegando na área, Raul protegeu um canto e Assis, calmamente troou de perna e tocou no outro canto, calando a metade rubro-negra dos 83 mil pagantes daquele abençoado domingo de dezembro de 1983. Com a vitória rubro-negra sobre o Bangu, dias depois, o Fluminense garantia o primeiro título que eu pude acompanhar na vida, para não me esquecer nunca mais. Acima, minha homenagem a esta primeira emoção de conquista como torcedor.
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